Texto do Salmo 22 (Salmo 23 em hebraico) da Septuaginta, tradução da Bíblia para o grego.
Salmo 22 (Salmo 23 em hebraico) da Septuaginta, tradução da Bíblia para o grego.

A Septuaginta é a primeira tradução da Bíblia hebraica, realizada do hebraico e aramaico para o grego. Esse marco na história das Escrituras foi criado entre os séculos III e I a.C., permitindo que judeus da diáspora tivessem acesso às Sagradas Escrituras em uma língua comum. A Septuaginta, a tradução da Bíblia, influenciou profundamente tanto o judaísmo quanto o cristianismo. Este artigo explora o contexto histórico, a importância teológica e as implicações culturais dessa tradução singular.

O Contexto da Diáspora e a Necessidade da Septuaginta

Com a diáspora judaica após o exílio babilônico, o uso do hebraico diminuiu entre os judeus dispersos. Especialmente no Egito, onde Alexandria se destacava como um centro cultural, muitos judeus passaram a falar grego, tornando necessária uma tradução da Bíblia para preservar a identidade religiosa. A Septuaginta, tradução da Bíblia hebraica e aramaica, foi uma resposta à necessidade de tornar as Escrituras acessíveis a judeus que, embora pudessem manter sua fé, não compreendiam mais o hebraico.

Segundo a tradição judaica e a Carta de Aristeas, o faraó Ptolemeu II Filadelfo convocou setenta e dois sábios para traduzir a Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia, a fim de enriquecer a famosa biblioteca de Alexandria. Essa iniciativa, que resultou na Septuaginta, foi uma inovação que permitiu que judeus de diversas regiões mantivessem o vínculo com sua fé e tradições. Com o tempo, os tradutores também traduziram outros livros da Bíblia, consolidando a Septuaginta como a versão grega mais amplamente utilizada das Escrituras hebraicas.

Esse contexto histórico é crucial para entender o impacto da Septuaginta, tradução da Bíblia para o grego, uma vez que ela se tornou não apenas uma ferramenta de preservação da fé, mas também de interação cultural com o mundo helenístico. A difusão do grego como língua comum e a riqueza cultural de Alexandria favoreceram a ampla disseminação da Septuaginta, tornando-a a versão das Escrituras mais acessível aos judeus e, posteriormente, aos cristãos.

A Septuaginta, além de ser amplamente conhecida por esse nome, é também chamada de LXX (um numeral romano para 70), ou Versão dos Setenta. Este apelido curioso se deve à antiga tradição de que setenta ou setenta e dois sábios judeus, seis de cada uma das doze tribos de Israel, foram convidados para traduzir os textos sagrados hebraicos para o grego, por encomenda de Ptolomeu II, rei do Egito, no século III a.C.

O Processo de Tradução: Fiel ao Texto ou Livre?

A tradução da Septuaginta envolveu um processo delicado de adaptação e interpretação. Os tradutores procuraram, em muitos casos, manter fidelidade ao texto hebraico, mas alguns livros demonstram nuances interpretativas que refletem o contexto cultural grego e os valores do público para o qual foi destinada. Assim, em livros como Isaías e Salmos, os tradutores procuraram manter o sentido essencial do texto, mas também o adaptaram de modo a torná-lo mais compreensível para leitores de língua grega.

Além disso, os tradutores enfrentaram o desafio de transmitir conceitos e palavras que não tinham equivalentes diretos em grego. Isso levou a escolhas linguísticas que, por vezes, resultaram em interpretações mais amplas. As diferenças entre a Septuaginta, tradução da Bíblia, e o Texto Massorético — versão hebraica do Antigo Testamento estabelecida posteriormente — refletem essas adaptações. A versão grega permite um vislumbre de tradições textuais que não sobreviveram na tradição hebraica, destacando a diversidade de interpretações bíblicas que existiam no período.

Esse caráter adaptativo da Septuaginta suscitou discussões ao longo dos séculos. Para os estudiosos contemporâneos, essas diferenças são valiosas, pois ajudam a esclarecer o desenvolvimento do pensamento judaico e as adaptações teológicas feitas para comunicar o conteúdo bíblico em outra cultura. A Septuaginta é, portanto, uma ponte cultural e espiritual que reflete a interação do mundo hebraico com a mentalidade grega.

Septuaginta e Judaísmo: Influência e Tensão

Para a comunidade judaica helenística, a Septuaginta tornou-se indispensável. Sua adoção permitiu que judeus de várias regiões mantivessem suas tradições e práticas religiosas, mesmo em um contexto de forte influência cultural grega. No entanto, com o surgimento do cristianismo, a Septuaginta, tradução da Bíblia, foi amplamente utilizada pelos primeiros cristãos, que a viam como uma fonte autorizada de profecias sobre o Messias. Essa interpretação messiânica intensificou o uso da Septuaginta entre os cristãos, ao mesmo tempo que criou tensões com os judeus que não aceitavam essas mesmas interpretações.

Os autores do Novo Testamento, como Paulo e os evangelistas, citaram frequentemente a Septuaginta para interpretar as Escrituras hebraicas à luz do ministério de Jesus. Essa utilização distintiva pelos cristãos levou os judeus a adotarem o Texto Massorético como sua fonte principal, distanciando-se das interpretações cristãs. O conflito em torno da interpretação messiânica ilustra a importância da Septuaginta como um texto que desempenhou papéis distintos no judaísmo e no cristianismo.

Com o tempo, o judaísmo gradualmente abandonou a Septuaginta, mas ela permaneceu central no cristianismo primitivo e na Igreja Ortodoxa até hoje. Esta divisão reforça a singularidade da Septuaginta, que preserva tradições bíblicas que foram reinterpretadas e recontextualizadas nas duas religiões.

Divergências Textuais: A Septuaginta e o Texto Massorético

A Septuaginta apresenta divergências significativas em relação ao Texto Massorético, especialmente em livros como Jeremias e Daniel, onde encontramos versões mais curtas ou longas. Essas diferenças refletem a diversidade textual do período, sugerindo que não havia uma única versão das Escrituras hebraicas. A Septuaginta, tradução da Bíblia, preserva alguns textos em sua forma mais antiga, enquanto o Texto Massorético representa uma versão que foi padronizada ao longo dos séculos pelos massoretas.

Essas variações são um recurso inestimável para estudiosos bíblicos modernos. Elas revelam a existência de tradições e práticas interpretativas que se perderam ao longo do tempo na tradição judaica hebráica. A comparação entre a Septuaginta e o Texto Massorético permite uma compreensão mais abrangente das Escrituras, evidenciando como diferentes comunidades interpretaram e preservaram esses textos. A Septuaginta oferece, assim, uma riqueza de perspectivas que enriqueceram o estudo bíblico ao longo dos séculos.

A comparação entre a Septuaginta e o Texto Massorético permite que estudiosos explorem o contexto cultural e linguístico em que esses textos surgiram. A diversidade de tradições que coexistiam durante o período helenístico evidencia como o pensamento judaico era plural, refletindo a interação entre diferentes escolas de pensamento e diferentes regiões.

A Influência da Septuaginta no Cristianismo Primitivo

Os primeiros cristãos adotaram a Septuaginta, tradução da Bíblia, e a citaram nos escritos do Novo Testamento, como nas epístolas de Paulo e nos evangelhos. A interpretação cristã viu na Septuaginta uma base teológica, especialmente nas profecias messiânicas, que apontavam para Jesus. A Igreja Ortodoxa ainda utiliza a Septuaginta em suas liturgias, e sua influência permanece na teologia cristã até hoje.

O Legado da Septuaginta na História e na Teologia Contemporânea

A Septuaginta é um legado histórico que oferece insights importantes sobre a transmissão das Escrituras. A Septuaginta, tradução da Bíblia, é uma ferramenta essencial para teólogos, acadêmicos e pesquisadores que buscam entender a tradição judaico-cristã. O conteúdo da Septuaginta preserva o diálogo entre judaísmo e pensamento helenístico. Ele enriquece a história das Escrituras e oferece uma perspectiva sobre a diversidade textual.